segunda-feira, 6 de junho de 2016

O papel da escola na saúde bucal

Saúde e qualidade de vida: o papel da escola na saúde bucal


Orlando Vanin Trage*
Maristela Piva**
Simone Artifon***
GustavoPiva uazzelli****

*     Cirurgião-dentista pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialista em Cirurgia e TraumatologiaBuco-Maxilo-Facial pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Atua como cirurgião-dentista em consultório particular e no serviço público no município de Alegria-RS.  E-mail: orlandotrage@gmail.com 
**  Psicóloga e psicoterapeuta. Mestre em Psicologia Clinica. Professora Titular do curso de Psicologia da Universidade de Passo Fundo (UPF). Trabalha em projetos de extensão e de pesquisa na área de Intervenções Psicossociais em psicologia. E-mail: maristela@upf.br
***     Formada pela Universidade de Passo Fundo (UPF). Monitora da oficina no 5º Seminário de Atualização Pedagógica para professores da educação básica em maio 2013 na UPF. E-mail: simoneartifon@hotmail.com
****   Acadêmico do curso de Economia da Universidade de Passo Fundo (UPF). Monitor da oficina no 5º Seminário de Atualização Pedagógica para professores da educação básica em maio 2013 na UPF. E-mail: gustavopgzl@gmail.com


1 Introdução

Este trabalho teve como objetivo realizar uma reflexão com os professores da educação básica, participantes do 5º Seminário de Atualização Pedagógica, promovido pela Universidade de Passo Fundo (UPF), em maio de 2013, sobre a função da escola em relação à saúde bucal. Para tanto, buscou-se revisar as ações em saúde bucal, adotadas atualmente nas escolas e, em seguida, procurou-se ampliar a discussão em uma oficina, quando se apresentou as práticas, intercambiando tais conhecimentos à luz das experiências pessoais dos presentes, no caso: professores da educação básica, cirurgiões-dentistas, professores da Faculdade de Odontologia (FO) e acadêmicos de vários cursos da UPF. As referências técnicas levadas em consideração nas discussões foram as preconizadas nos Cadernos de Atenção básica do Ministério da Saúde.
A proposição dessa temática de oficina para professores da educação básica encontra justificativa justamente no momento
em que em nosso país muitas instituições de ensino preparam-se para adotar o turno integral de funcionamento. A escola, ao dispor em tempo maior da presença dos alunos em seu ambiente, deverá contemplar uma educação para além dos currículos, reportando-se a uma educação para a vida. A formação integral também deverá olhar para o contexto da saúde e, nesse aspecto, a saúde bucal faz parte do cenário. A escola terá um papel mais importante em relação à dieta e à higiene bucal dos alunos. Com o turno integral, os alunos não terão somente merenda na escola como vinha acontecendo, passarão a fazer refeições e, portanto, deverão também realizar logo após essas uma adequada higiene bucal.
O que se observa é que o culto ao corpo tem se mostrado uma característica de nossa época, e também com isso, o cuidado com os dentes, as amplas divulgações das clínicas odontológicas vendendo o melhor e mais branco sorriso acabam sendo o sonho de consumo entre os adolescentes. Todavia, o que se quer priorizar são as implicações da saúde bucal na saúde integral. Aspecto esse que transcende a preocupação com a estética, tônica tão presente na contemporaneidade.

2 A inter-relação da educação e da saúde dentro das escolas

É fato histórico de que no Brasil, até a década de 1950, a saúde e a educação estavam reunidas no mesmo ministério, quando então, o assim chamado Ministério da Educação e Saúde (MES) foi desdobrado em dois ministérios, o da Educação e Cultura e o Ministério da Saúde. Esse fato sinaliza que já se visualizava que se poderiam obter bons resultados com um trabalho conjunto entre as duas áreas, permitindo que se planejassem ações valendo-se do estreito vínculo entre a produção do conhecimento e um viver saudável.
O que se pode depreender é que a escola, sendo um espaço onde se desenvolvem as relações acaba por ser um espaço privilegiado para o desenvolvimento crítico e político, e contribui para a construção de valores pessoais, crenças, conceitos e maneiras de conhecer o mundo. Desse modo, interfere diretamente na produção social da saúde.
A partir da compreensão de que uma ação Inter setorial, uma parceria, existe na medida em que “ambas as partes envolvidas trabalham juntas para atingir um objetivo comum, resultando em benefícios para todos”, (Rocha, 2008), assim, parece, então, que os sistemas de saúde e de educação no Brasil venceram o primeiro passo para um trabalho conjunto. Ao mesmo tempo, parece que a promoção da saúde apresenta-se como uma forma de pensar e agir em sintonia com este agir educativo, cuja finalidade é a formação de sujeitos e projetos pedagógicos voltados para o direito à vida (Cadernos de Atenção básica do Ministério da Saúde, 2009, p. 10).
Como reconhecimento oficial da importância da escola para se trabalhar educação e promover a saúde, o Governo Federal instituiu O Programa Saúde na Escola (PSE), por meio do Decreto Presidencial n. 6.286, de 5 de dezembro de 2007, que resultou do trabalho integrado entre o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação, na perspectiva de ampliar as ações específicas de saúde aos alunos da rede pública de ensino: ensino fundamental, ensino médio, rede federal de educação
profissional e tecnológica, educação de jovens e adultos.

2.1 Saúde e qualidade de vida

O sonho da maioria das pessoas é viver uma vida longa e feliz, e o contínuo aumento na expectativa da média de vida das populações tem feito com que também haja uma crescente atenção a aspectos que possam acrescentar qualidade à vida. Embora saibamos que o que dá qualidade à vida de um indivíduo passa por uma série de aspectos subjetivos, como cultura, religião, época histórica, educação, quase todos hão de concordar que as limitações e o desconforto causados pelas doenças, sem sombra de dúvida, comprometem o bem-estar, trazendo como consequência prejuízo à qualidade de vida dos indivíduos.
As crianças que estão hoje nas escolas, pelas atuais projeções, viverão, em média, um significativo número de anos a mais e, então, torna-se quase que um dever proporcionar-lhes hábitos e educação em saúde para que possam ter, dentro do possível, uma dentição saudável até o final de sua vida, significando com isso uma vida mais longa e com mais qualidade.
Os profissionais da saúde bucal que fazem atendimento clínico percebem que quando se foca a atenção para as doenças bucais, sempre se encontra a cárie dentária como a que apresenta maior prevalência, sendo também a maior causa de perda estética e funcional do aparelho mastigatório. A cárie dentária, o diabetes, a obesidade e algumas doenças circulatórias, sabe-se, atualmente, que tem alguns aspectos comuns em seu desenvolvimento, tais como: fatores ambientais, genéticos hereditários e dietéticos. Sobre o último fator, a dieta, a escola de tempo integral passa a ter responsabilidade ainda maior, estando no dever de contemplar no cardápio servido aos alunos, alimentos que favoreçam a saúde e previnam as doenças. Agora, já não se trata apenas de proporcionar uma merenda, mas sim refeições aos alunos. Cabe destacar aqui que os alimentos servidos nas escolas variam de estado para estado brasileiro, respeitando fatores culturais, climáticos e econômicos, mas a preocupação com uma educação alimentar que faça com que os alunos optem por uma dieta que seja nutritiva e que previna a obesidade, o colesterol elevado e as cáries dentárias, dentre outras doenças, deve ser um objetivo comum dentro de todas as escolas. O tempo das merendas muito calóricas, dos refrigerantes e dos alimentos com poucas fibras, deve ser apenas lembrado brevemente como coisa do passado. Hoje, felizmente os cardápios são supervisionados por profissionais da nutrição e acredita-se que sejam mais adequados a uma vida saudável, habituando as crianças a consumirem uma maior quantidade de frutas e verduras.

2.2 A trajetória da saúde bucal na escola

Nickel, Lima, e Silva (2008) realizaram uma revisão da literatura sobre os modelos assistenciais em saúde bucal no Brasil, desenvolvidos a partir do pioneiro Sistema Incremental. Esse foi um marco importante no passado das ações da saúde bucal nas escolas, em nosso meio, no estado do Rio Grande do Sul. Nessa época, várias escolas, norteadas pela Secretaria Estadual da Educação, foram palcos de execução dos chamados Programas Incrementais, em que um ou mais cirurgiões-dentistas dentro da escola cuidavam da educação em saúde para toda a comunidade escolar e tinha também como foco de atuação o tratamento curativo dos alunos dentro do grupo eletivo (alunos escolhidos para receber prioritariamente atendimento curativo). O objetivo era fazer um tratamento inicial e, a partir dali, tratar todas as cáries novas que surgissem no período estabelecido pelo programa e seguir acompanhando esses alunos em toda a sua vida dentro daquela escola. Quando havia disponibilidade de tempo eram também atendidos os demais alunos. Houve também, um período em que o trabalho de prevenção nas escolas, apoiado pela Secretaria Estadual de Educação do estado do Rio Grande do Sul, teve como foco de atuação a aplicação dos bochechos com flúor, realizados diariamente, muitas vezes, reunindo os alunos em grupo, no pátio da escola. Os mesmos autores comentaram que os modelosdestacados nas publicações científicas utilizadas comoreferência foram, além do Sistema Incremental, o Programa de Inversão da Atenção, a Atenção Precoce em Odontologia e o Programa Saúde da Família.
Com a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), um maior número de pessoas passou a ter atendimento odontológico na rede básica e, nesse momento iniciou, em algumas escolas, um recuo progressivo na atenção à saúde bucal dos estudantes dentro do ambiente escolar, não somente nos cuidados curativos com a desativação progressiva dos gabinetes odontológicos (os cirurgiões-dentistas aposentaram-se e não foram mais repostos), mas também nas ações preventivas. Muitos responsáveis pela saúde bucal em algumas escolas fizeram erroneamente a interpretação de que se agora havia atendimento odontológico curativo universal e gratuito, então, o problema da saúde bucal estaria resolvido de forma muito simples, sendo necessário unicamente que os pais levassem seus filhos ao atendimento curativo nas unidades básicas e com essa medida a saúde bucal deles estaria protegida. Pode-se interpretar que houve uma espécie de transferência do problemada saúde bucal, que antes era assumido pelas escolas e que a partir do SUS foram transferidos para as unidades de saúde.
A mudança mais importante verificada após a implantação do SUS foi que os municípios passaram a ter mais liberdade para planejar e executar suas ações e a maioria desses criaram seus próprios programas de saúde bucal, dando enfoque a certos grupos considerados prioritários, focalizando a atuação, de forma especial, na saúde bucal dos escolares.

2.3 O papel da escola na saúde bucal

Com o futuro funcionamento, em nosso país, de muitas escolas em turno integral, acredita-se, pois, que seria o momento de renovar a ênfase sobre o importante papel da escola em relação à saúde bucal. Não se trata de propor programas de saúde para escolares, mas sim de realizar uma análise das atribuições que se espera da escola em relação ao tema proposto.
Em primeiro lugar, destacamos que as ações de saúde voltadas para comunidade escolar devem sempre visar à promoção da saúde, o fortalecimento dos fatores de proteção contra as doenças, evitando os agravos. Vejamos o que nos dizem os Cadernos de Atenção Básica do Ministério da Saúde:

Nas escolas, o trabalho de promoção da saúde com os estudantes, e também com professores e funcionários, precisa ter como ponto de partida “o que eles sabem” e “o que eles podem fazer”, desenvolvendo em cada um a capacidade de interpretar o cotidiano e atuar de modo a incorporar atitudes e/ou comportamentos adequados para a melhoria da qualidade de vida. Nesse processo, as bases são as “forças” de cada um, no desenvolvimento da autonomia e de competências para o exercício pleno da cidadania. Assim, dos profissionais de saúde e de educação espera-se que, no desempenho das suas funções, assumam uma atitude permanente de empoderamento dos estudantes, professores e funcionários das escolas, o princípio básico da promoção da saúde (Cadernos de Atenção básica do Ministério da Saúde, 2009, p. 13).

 Podemos perceber, portanto, que é de vital importância que os profissionais da atenção básica possam estar de maneira constante nas escolas, junto com alunos e professores, servindo como uma referência bem próxima, bem como de tempos em tempos participem de seminários de atualização, agregando informações em saúde bucal para os professores, para que esses possam atuar como multiplicadores de ações, estimulando e reforçando constantemente, de forma didática, junto aos alunos, aos pais e aos funcionários os conceitos de promoção de saúde e de prevenção.
Na opinião de Narvai, Frazão, Roncalli e Antunes (2006), uma prevalência de cárie como a que temos no nosso meio estudantil, torna necessário um ciclo repetitivo restaurador que, muitas vezes, até inviabiliza por falta de recursos humanos e materiais o tratamento curativo de boa parcela dos estudantes. Além do que, isso pode acarretar um ônus para o sistema de saúde, gerando algum grau de comprometimento funcional para os indivíduos afetados, resultando em mutilações (extrações dentárias) e a consequente necessidade de reabilitações protéticas. Há, portando, que se atuar por intermédio da dieta (restringindo os carboidratos e a frequência das ingestões) e de uma eficiente higiene bucal para que se consiga um controle de placa adequado, que permita equilibrar o processo de desmineralização e remineralização dos dentes. Somente depois de obtida uma prevalência baixa de cáries é que se torna viável um tratamento curativo mais eficiente e duradouro. Como dizem popularmente, primeiro, controla-se o incêndio para depois pensar em reconstruir a casa. Contudo, o ideal seria primeiro controlar a placa para depois fazer trabalhos curativos. Arcieri, Rovida, Lima et al. (2013) realizaram um estudo em que analisam os conhecimentos de saúde bucal dos professores de educação infantil em algumas escolas públicas. Os autores puderam concluir em seu estudo que, embora a escola seja um espaço importante de informação, essa é ainda muito pouco aproveitada, sendo que os professores têm pouco conhecimento a respeito dos cuidados necessários para a manutenção da saúde bucal e necessitam de maiores informações para abordarem com segurança tais temas em sala de aula. Isso sinaliza a necessidade da presença do cirurgião-dentista e de pessoal técnico dentro das escolas. Ainda, de acordo com Arcieri et al. (2013), diversos autores referem a importância do esclarecimento da população no que tange às intervenções precoces no controle dos problemas de saúde, já que a partir daí pode-se evitar tratamentos restauradores e reabilitadores, visto que esses não restituem plenamente a saúde bucal, bem como a prevenção é a maneira mais econômica e eficaz de se evitar o aparecimento e desenvolvimento das principais doenças bucais. Assim, deve-se buscar a educação e a motivação constante com o objetivo de mudar hábitos e comportamentos, de modo a promover a saúde e melhorar a higiene bucal dos alunos.
Todos os que trabalham com educação em saúde sabem que mudar hábitos pessoais e familiares é algo difícil, uma vez que esses estão enraizados nos indivíduos, fruto de sua formação. Portanto, para que o cirurgião-dentista e os professores consigam promover a educação em saúde dentro da escola, faz-se necessária a utilização de estratégias e métodos adequados de motivação e, principalmente, reforço nas informações e na supervisão que deve ser constante. A continuidade das ações é fundamental para que o hábito se consolide e os esforços iniciais não sejam perdidos. Falando em linguagem simples,
a moda antiga, podemos dizer que a cárie nos adultos anda a pé (vai devagar), porém, nas crianças vai a cavalo, galopando. Sendo assim, é fundamental que se promova a diminuição do risco à cárie dentária desta população, pois, se evolui rapidamente, afeta de forma imediata a qualidade de vida da criança, causando dor, danos estéticos e funcionais com possíveis reflexos psicológicos.
Dessa forma, concordamos com Arcieri et al. (2013) quando afirmam que a escola se mostra um local ideal para o desenvolvimento de programas educativo-preventivos, já que reúne crianças das mais variadas procedências e condições sociais. Trabalhando a saúde bucal na escola, desenvolve-se uma ação que promove a inclusão, até mesmo daquelas crianças que por algum motivo não tenham acesso à atenção nas unidades básicas ou aos benefícios mundialmente reconhecidos da água fluoretada.
Assim, a cooperação entre professores e cirurgiões-dentistas na propagação de conhecimentos sobre saúde e higiene bucal para as crianças torna-se muito importante, uma vez que a figura do professor exerce grande influência nos alunos, por meio do tempo de contato diário que ambos estabelecem dentro de uma escola. A figura do cirurgião-dentista, de certa forma, simboliza o campo de trabalho na saúde bucal, e esse profissional acaba sendo uma referência para todos dentro daescola, tanto para alunos como para os próprios professores. Há que se reforçar o vínculo professores x cirurgiões-dentistas x alunos para um bom desempenho de qualquer programa de saúde bucal dentro das escolas. Afinal, já indicamos, em outros textos, que cuidar dos dentes pode ser prazeroso e divertido (Trage, 2014).
O sucesso da escola em realizar um bom trabalho de saúde  bucal, além da ação pedagógica e motivacional constante e do comprometimento de direção, pais, professores, profissionais da saúde e autoridades, também depende das instalações físicas. Ensinar hábitos requer experimentar isso na prática diária. Educar não deve ser um discurso vazio do faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. Assim, a escola, após as refeições, deve oportunizar aos alunos a possibilidade de higienizar a boca, por meio da escovação e do uso do fio dental com todos os cuidados que garantam uma ação eficiente
de limpeza: escovas dentais, dentifrício fluorado, fio dental eum local para a realização da escovação. Não se pode admitir a construção de novas escolas, sem um ambiente coletivo e adequado para que os alunos possam realizar a higiene bucal.
Uma escola de tempo integral tem obrigatoriamente que oferecer a seus alunos um ambiente com múltiplas torneiras e pias individuais ou em ambiente coletivo, adequadas à altura dos usuários, em que haja espelhos, nos quais os alunos possam visualizar a escovação. São os chamados escovódromos ou como chamam alguns, escovários. Seria ideal também que cada aluno tivesse um armário individual para guardar o seu material de higiene pessoal. Nesses locais, além da escovação coletiva, alunos com alta atividade cariosa, triados por cirurgiões-dentistas, devem poder realizar, sob supervisão de cirurgiões-dentistas ou técnicos de higiene bucal, terapia intensiva com flúor.
Sabemos também que a dieta tem influência sobre certas doenças, dentre essas, notadamente sobre a cárie, e deverá, pois a escola fornecer um cardápio adequado para garantir as necessidades nutricionais e prevenir o seu desenvolvimento , bem como das doenças crônico degenerativas. Uma política de educação nutricional (reeducação alimentar) deve também fazer parte da política pedagógica da escola.

3 Considerações finais

Observou-se no desenrolar da oficina, o grupo discutindo as ideias dos autores citados, e também, estimulando os presentes a rememorarem como estabeleceram seus hábitos de higiene bucal, concordamos com Arcieri et al, 2013, de que a escola é um ambiente adequado para se fazer educação em saúde, e ainda, que a idade das crianças é muito favorável para a incorporação de novos hábitos saudáveis. Também se concordou com o mesmo autor no sentido de que o espaço escolar ainda é pouco aproveitado para a promoção da saúde bucal, sendo que a maioria dos professores têm pouco conhecimento a respeito dos cuidados necessários para a manutenção da saúde bucal e necessitam receber mais informações para abordarem com segurança esses temas em sala de aula. Isso reforça a necessidade de inclusão de conteúdos de saúde bucal na formação e nas atualizações promovidas para professores do ensino fundamental, bem como a necessidade da presença do cirurgião-dentista e ou de técnicos em higiene bucal dentro das escolas.
Um dos aspectos mais ressaltados pelos presentes foi a necessidade das escolas disporem de instalações adequadas, que permitam aos alunos higienizarem a boca no ambiente escolar e um maior cuidado com a alimentação oferecida pelas escolas, não somente no aspecto de dieta não cariogênica, como também na diminuição da frequência com que os alunos ingerem refrigerantes, chicletes, balas, salgadinhos e outros alimentos de pouco valor nutricional.
Incluir os educadores nos programas educativo-preventivos em saúde bucal pode ser uma maneira de favorecer a transmissão desses conhecimentos. Entretanto, estimular novos hábitos na rotina de crianças e adolescentes não é tarefa fácil e, desse modo, devemos unir esforços das diversas áreas do conhecimento, como psicologia, odontologia, educação e serviço social para que as intervenções favoreçam o cuidado de nossas crianças e de nossos jovens. Há que se considerar que o cuidado, conforme bem aponta Merhy (2007), é sempre uma atitude de envolvimento afetivo, que necessariamente implica em vínculo, cumplicidade, disponibilidade e confiança.

Referências
ARCIERI, R. M.; ROVIDA, T. A. S.; LIMA, D. P.; GARBIN. A. J. I.; GARBIN, C. A. S. Análise do conhecimento de professores de Educação Infantil sobre saúde bucal. Educar em Revista, Curitiba: Editora UFPR, n. 47, p. 301-314, jan./mar. 2013.
CADERNOS DE ATENÇÃO BÁSICA, MINISTÉRIO DA SAÚDE, Secretaria de Atenção à Saúde. SAÚDE NA ESCOLA, Brasília. Série B. Textos básicos de saúde cadernos de atenção básica, n. 24. 2009. Disponível
MERHY, E. E. O trabalho em saúde: olhando e experienciando o SUS no cotidiano. 4. ed. São Paulo: Hucitec, 2007.
NARVAI, P. C.; FRAZÃO. P.; RONCALLI. A. G.; ANTUNES, J. L. F. Cárie dentária no Brasil: declínio, iniquidade e exclusão social. Revista Panamericanade Salud Publica, local de publicação, v.19, n. 6, p.385-393, mês. 2006.                            
Disponível em: http://www.scielosp.org/scieloOrg/php/reference.
php?pid=S1020-49892006000600004&caller=www.scielosp.org&
lang=en. Acesso em: 5 maio 2013.
NICKEL, DANIELA ALBA; LIMA, FÁBIO GARCIA; SILVA, BEATRIZ BIDIGARAY DA. Modelos assistenciais em saúde bucal no Brasil. Cadernos de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 24, n. 2, fev. 2008 . Disponível
em: http://dx.doi.org/10.1590/S0102-311X2008000200002>. Acesso
em: 21 ago. 2014.
TRAGE, O. O dentista de alegria. Passo Fundo: Berthier - Aldeia Sul,

2014.